O Que é a Síndrome de Williams-Beuren?

“Síndrome” é uma palavra que significa um conjunto de sinais clínicos. Assim, Síndrome de Williams-Beuren (SWB) quer dizer o conjunto de sinais que foram descritos em indivíduos atendidos por esses médicos. Os sinais mais comuns são a face característica, a personalidade amigável e uma alteração cardíaca conhecida como estenose valvar supra-aórtica (EVSA). Esta alteração se caracteriza por um estreitamento da porção que regula a saída de sangue do coração pela artéria chamada aorta (valva aórtica), que leva o sangue para a maior parte do corpo.
Existem, ainda, outros achados clínicos, mas é importante lembrar que não é obrigatória a presença de todos os sinais descritos para a confirmação do diagnóstico, que deve ser feito por um médico.

Essa Síndrome é comum?
Estudos realizados em diversos países mostram que a SWB aparece em diferentes regiões, sem diferença entre sexo e cor. O número de nascidos com essa condição, em diferentes estudos varia entre 1:10.000 a 1:25.000. Assim, de cada 10 a 25 mil bebês nascidos, 1 apresentaria a SWB.

Quais os sinais clínicos que mais chamam a atenção?

  • A face de um indivíduo com SWB é bastante característica, com o aumento do volume da região das pálpebras, nariz com ponta arrebitada e lábios grossos;
  • Problemas de coração e vasos, onde se destaca a EVSA e a estenose de artéria pulmonar (estreitamento da artéria que leva o sangue para os pulmões);
  • Dificuldade de alimentação nos primeiros meses de vida;
  • Atraso de desenvolvimento neuromotor/deficiência mental;
  • Atraso de crescimento com baixa estatura na idade adulta.
  • Aumento do nível de cálcio no sangue (mais freqüente no 1º. ano de vida);
  • Íris (“menina dos olhos”) com padrão de estrela;
  • Ausência de alguns dentes, dentes pequenos e, às vezes, com mau fechamento das arcadas dentárias;
  • Voz rouca;
  • Personalidade amigável;
  • Aumento da sensibilidade ao som.

Qual é a causa da SWB?
A SWB é causada pela perda de um ou mais genes do braço longo do cromossomo 7. Isso é chamado de “síndrome dos genes contíguos”. Nessa região, existem 2 genes importantes para o aparecimento dos achados clínicos que foram listados acima: o gene da elastina (ELN), que parece ser responsável pelos defeitos cardíacos, e o L1Mquinase, associado à noção de visão espacial.
Essa alteração pode acontecer em um filho de um casal normal,e, em alguns casos (raros), o pai ou a mãe pode ter uma forma muito leve, a qual pode não ter sido diagnosticada antes. Por isso, a consulta com o geneticista é fundamental para esclarecer a causa.

Como é feito o diagnóstico?
Em geral, o quadro clínico é suficiente para o diagnóstico. Ele pode ser confirmado por meio de um exame de sangue específico, o cariótipo nos glóbulos brancos do sangue (linfócitos), complementado pela técnica de hibridação in situ (FISH) para os genes da elastina (ELN) e da L1Mquinase, que costuma ser positivo em 90 a 96% dos casos. Como é um exame especializado e de alto custo, pode não estar disponível na maioria dos laboratórios. Considerando essa dificuldade, dependendo do quadro clínico, sua realização pode não ser solicitada.

Quais as principais complicações?
O médico pode utilizar os conhecimentos já existentes para realizar um atendimento bastante adequado para os indivíduos com SWB, ajudando a prevenir e tratar as possíveis complicações. É importante salientar que nem todos vão apresentá-las ou, ainda, que o fato de ter uma delas não implica em ter as outras. As principais são:

  • Alterações cardiovasculares: além da EVSA e da estenose de artéria pulmonar, estão descritas outras alterações que podem levar ao aumento da pressão arterial (hipertensão);
  • Hipercalcemia (aumento do cálcio no sangue): esse problema ocorre mais freqüentemente no 1º. ano de vida. Suas manifestações incluem irritabilidade, vômitos, constipação e tremores. O aumento do cálcio no sangue pode levar à alteração do metabolismo da vitamina D e acúmulo de cálcio no rim (nefrocalcinose);
  • Infecções de ouvido freqüentes;
  • Alterações de comportamento, ansiedade, déficit de atenção e hiperatividade;
  • Atraso de desenvolvimento motor e de fala, dificuldade escolar, diminuição de visão espacial, estrabismo;
  • Problemas de postura (cifose, lordose);
  • Alterações nos rins, na bexiga e no intestino (diverticulite, que é a dilatação de uma parte do intestino);
  • Hérnias;
  • Problemas com anestesia.

Cuidados gerais importantes.

  • Não administrar vitaminas sem controle médico, para evitar complicações relacionadas à vitamina D;
  • Realizar avaliações cardiovasculares com especialista, periodicamente, pelo risco de hipertensão;
  • Orientações nas áreas de reabilitação e pedagógica constantes.

No primeiro ano de vida é importante:

  • Acompanhamento pediátrico regular;
  • Utilização de curvas próprias para a SWB na averiguação do crescimento e ganho de peso e acompanhamento nutricional;
  • Avaliação cardiológica;
  • Atenção para a investigação de refluxo gastro-esofágico, dificuldade de sucção e deglutição, vômitos, cólicas e hérnias;
  • Avaliação de audição entre 6 e 12 meses;
  • Medidas de pressão arterial em ambos os braços e pernas;
  • Tratamento precoce de prisão de ventre (constipação);
  • Consulta ao geneticista;
  • Avaliação oftalmológica;
  • Exames: FISH, dosagens de creatinina e cálcio no sangue, urinálise, relação cálcio/creatinina urinários, investigação de hipotiroidismo, ultra-sonografia de vias urinárias
  • Importante: Iniciar programa de estimulação e encaminhar família para grupo de suporte.

Cuidados para todas as idades.

  • Avaliação médica anual;
  • Utilização de curvas específicas para SWB no acompanhamento de peso e estatura,além de acompanhamento nutricional;
  • Avaliação cardiológica;
  • Avaliação de audição e visão;
  • Avaliação de problemas digestivos e urinários;
  • Avaliação ortopédica;
  • Avaliação neurológica;
  • Medidas de pressão arterial em ambos os braços e pernas;
  • Avaliação odontológica;
  • Inclusão em programa de tratamento multidisciplinar e escolarização;
  • Se necessário realizar cirurgia, consulta pré-anestésica;

Exames a serem realizados:

  • Análise da urina anual;
  • Dosagem de cálcio no sangue (se normal, repetir a cada 2 anos);
  • Dosagem da taxa de excreção urinária de creatinina e cálcio a cada 2 anos;
  • Verificação da função tiroidiana cada 4 anos;
  • Dosagem de creatinina no sangue a cada 4 anos;

Sugestões importantes:

  • Manter o contato com grupo de suporte;
  • Introdução e Manutenção de Terapias de reabilitação;
  • Escolarização;
  • Iniciar planejamento vocacional;
  • Realização de exercícios;
  • Discussão sobre sexualidade e reprodução.

Existe risco para outros filhos?
Isso vai depender exatamente da causa diagnosticada em cada um dos indivíduos com SWB. Assim, é melhor que cada família converse sobre isso com seu geneticista.

E o risco para filhos de uma pessoa com SW?
Quando uma pessoa tem uma alteração no cromossomo, ela pode ser transmitida aos seus filhos. No caso da SWB, essa alteração é em apenas 1 dos cromossomos 7. Assim, se ele passar o cromossomo alterado para seu filho, a criança nascerá com a mesma síndrome. Por outro lado, se for o outro cromossomo, isso não ocorrerá. Com isso, podemos dizer que o risco para filhos de um indivíduo com SWB é de 50%.

Dra. Vera Lúcia Gil da Silva Lopes –
Medica Geneticista – Chefe do departamento de Genética da UNICAMP.
Voluntária da Associação Brasileira de Síndrome de Williams (11/06/2008